quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Natal e o sonho de infância


Sábado próximo, quando os sinos do Natal repicarem, anunciando o nascimento do Menino, vou me reencontrar com as distâncias do tempo, as lembranças que os sonhos ainda mantêm vivas, apesar de tudo, de todas as mazelas e desencontros.
O poeta falando sobre o Natal, disse - "Muito tempo faz, mas ninguém olvida, que é um dia de paz... Porque fez-se a vida!". Pouco tempo durou em mim a fantasia de Papai Noel. Descobri logo cedo que outros meninos mais pobres que eu, não acordavam na manhã do dia de Natal pisando sobre os brinquedos debaixo da cama. Eu era feliz, de uma felicidade que não me dava conta de sua grandeza carinhosa. Somente vim entendê-la, quando me fiz adulto, entregue à batalha desigual da vida.

Não conseguia segurar o sono que me pegava logo, pelas primeiras horas da noite. Não conseguia ficar à espreita do "velhinho" que trazia os brinquedos tão esperados. Depois, ainda na meninice, fechava os olhos, fingindo não ver meu pai e minha mãe se aproximando, na ponta do pé, bem de manhã, com os brinquedos às mãos e colocando-os sobre os chinelos. Era o tempo do almanaque Tico Tico, minha leitura predileta.

O poeta Manuel Bandeira cantou: "Sou bem nascido. Menino fui, como os demais, feliz". E completou: "Depois, veio o mau destino e fez de mim o que quis". E lendo o velho poeta, a minha alma se volta a muitos Natais - "Tudo é saudade... A voz dos sinos... Seca o pranto feliz sobre os meus olhos castos...".

Mas, Bandeira, nos versos de Natal, falando ao seu espelho mágico que refletia suas rugas, os cabelos brancos, os olhos míopes e cansados, pediu que penetrasse ao fundo do homem triste que era, para descobrir o menino que não queria morrer - "O menino que todos os anos na véspera do Natal, pensa ainda  pôr os seus chinelos atrás da porta".

No Natal serei sempre o menino reencontrado, que se reconhece apesar da névoa do tempo. Ainda sente o cheiro das papoulas vermelhas do jardim da casa de Nova Cruz, do alvoroço no recreio do Grupo Alberto Maranhão onde aprendeu de verdade as primeiras letras. Direi como o poeta - "Do sonho do dia gasto dos retalhos refugiados pelo varejo dos instantes, eu ia extraindo os fios de que carecia para tecer o meu tapete ilusório".

O grande poeta Ledo Ivo cantou e ao mesmo tempo indagou: "Em que porta fechada encontrarás a chave desta noite triunfante, cheia de amor, mas cheia de harmonia, igual ao corpo de uma antiga amante"?

Canto nos meus oitenta anos, a solidão dos que esperam em vão nos corredores dos hospitais o remédio que lhes é negado, o leito em que repouse a dor permanente; os que carregam todo o peso das injustiças sociais. 

Porque a grande verdade é que o Natal junta tudo que se assemelha ao nosso sonho de infância, "entre fanfarras e gritos".

Feliz Natal! 
Ticiano Duarte - jornalista
Fonte: Tribuna do Norte

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