domingo, 5 de fevereiro de 2012

Mossoró não tem estrutura e espaço adequados para tratar mulheres com dependência química

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Ninguém desconhece que a alta criminalidade está em grande parte associada ao tráfico de drogas sem controle em Mossoró, tampouco que o consumo desses produtos e a prática desses crimes não mais distinguem idade, sexo ou classe social. Entre as mulheres o problema cresce a passos largos, com um agravante: não há nenhum lugar específico onde o público feminino possa tratar a dependência química no Rio Grande do Norte.
Especialistas e profissionais que trabalham com a questão no Oeste potiguar preocupam-se com a falta de apoio e mobilização da sociedade e do poder público frente à crescente procura de famílias desesperadas por uma solução para o problema. Uma das instituições em atuação na cidade é o Desafio Jovem, que presta um serviço filantrópico especializado no tratamento de pessoas com dependência química.

O coordenador do projeto, Laudelino Martins, conta que chegou a montar uma estrutura para tratar de mulheres com dependência química, porque viu a necessidade apontada pela região. Sem apoio, contudo, teve de fechar o local em pouco tempo de atuação. "Quando completei dois anos de funcionamento do Desafio Jovem, eu vi a necessidade de abrir uma casa feminina e fiz isso, na Estrada da Alagoinha. Passei um ano pedindo ajuda ao poder público, sem resposta, e eu não tinha como manter essa casa sozinho", diz.

A Obra Social da Nossa Senhora da Glória, única unidade da Fazenda da Esperança no Estado, passa por situação semelhante. O presidente da unidade, César Garcia, acredita que, além da falta de apoio, deveria haver maior oportunidade de divulgação. "Falta uma maior compreensão, pois é uma obra em que há uma filosofia de que cada unidade tem de ser autossustentável e eu acho que falta oportunidade para a gente esclarecer melhor, para estar levando essa informação", opina. 
Especialistas dizem que consumo tende a crescer, mas estrutura é insuficiente para enfrentar a situação
Especialistas têm a mesma opinião sobre as razões que levam ao aumento do consumo: a tendência que o jovem tem hoje de associar diversão ao consumo de álcool e drogas e a facilidade de se comprar esses produtos na região. O vício começa entre moças cada vez mais jovens e a iniciação no mundo das drogas ocorre mesmo em locais centrais ou de grande de circulação de pessoas.
"Nessas festas, como as que ocorrem na Estação das Artes, é onde tudo começa. Elas bebem, encontram camaradas mal-intencionados e acabam fumando a primeira pedra. Depois disso, não tem para onde correr. O próximo passo é se prostituir para manter o vício. O Conselho Tutelar faz um trabalho maravilhoso na cidade e a Delegacia de Narcóticos (Denarc) também faz o que pode, mas falta estrutura mesmo para trabalhar com isso da maneira mais apropriada", conta.
Voluntários avaliam que falta de apoio compromete capacidade de atendimento
Segundo Martins, o Desafio Jovem chega a receber em média quatro ligações diárias de famílias que procuram ajuda para tratar parentes mulheres na luta contra as drogas, uma quantidade que ele considera extremamente elevada. "Mas, infelizmente, eu não tenho como manter", lamenta. O coordenador comenta que a ausência de uma maior contribuição ameaça também os serviços prestados ao público masculino. "A instituição está hoje com 20 jovens quando há capacidade para 50, justamente pela falta de estrutura".
A Fazenda da Esperança também trabalha com uma quantidade de pessoas abaixo da sua capacidade. "A capacidade que nós temos é para 40 pessoas, hoje nós estamos com 20", diz César Garcia. Embora não possa falar em números, percebe o crescimento "notório" da procura de mulheres e preocupa-se com a falta de espaço adequado para esse público. Nesses casos, quando é possível, elas são encaminhas a unidades em Fortaleza, local mais próximo onde é possível encontrar estrutura.
Em estados próximos ou vizinhos a situação é bem diferente, compara Garcia. "No Rio Grande do Norte, infelizmente, a única fazenda que nós temos é em Serra do Mel, que tem nove anos e é masculina. A obra já existe no Brasil há 30 anos. No Ceará há cinco fazendas; em Pernambuco, cinco. Inclusive femininas. Se mulheres nos procurarem, nós encaminhamos à fazenda feminina mais próxima nossa, que é em Fortaleza", conta.
 Fonte: Redação do Jornal O Mossoroense

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