sábado, 26 de maio de 2012

O SERTANEJO DRIBLANDO A SECA


Sertanejos tentam se salvar com atividades alternativas

Nesses meses de estiagem, em áreas de grandes mananciais de água, a pesca tem sido o meio de sobrevivência do sertanejo. As águas da barragem Armando Ribeiro Gonçalves, dentro do município de São Rafael, atraem pescadores vindos de longe, de cidades como Jucurutu e até mesmo Assu.  Eles chegam cedo, por volta das 4h e navegam, até águas profundas, onde os peixes costumam 'se esconder' na estiagem, quando o volume dos reservatórios cai.


José Rodrigues da Silva: A estiagem está atrapalhando muito. No ano passado, que choveu muito, a gente via peixe em todos os cantos e até na margem da barragem. Hoje não se vê mais.
Foto: Júnior Santos
José Rodrigues da Silva: A estiagem está atrapalhando muito. No ano passado, que choveu muito, a gente via peixe em todos os cantos e até na margem da barragem. Hoje não se vê mais.

 
Fagner Brás, 18, pesca com rede e teve mais sorte. Saiu do barragem com mais de 20 quilos em dois dias de pescaria das 5h às 11h.
Foto: Júnior Santos
Fagner Brás, 18, pesca com rede e teve mais sorte. Saiu do barragem com mais de 20 quilos em dois dias de pescaria das 5h às 11h.


José Wilton Salvino da Silva, 25 anos, recém-contratado da cerâmica Santa Rita: Hoje as fazendas não contratam mais, então a gente dá graças a Deus quando outros setores chamam.
Foto: Júnior Santos
José Wilton Salvino da Silva, 25 anos, recém-contratado da cerâmica Santa Rita: Hoje as fazendas não contratam mais, então a gente dá graças a Deus quando outros setores chamam.
 
 
José Wilton Salvino da Silva, 25 anos, recém-contratado da cerâmica Santa Rita: Hoje as fazendas não contratam mais, então a gente dá graças a Deus quando outros setores chamam.
Foto: Júnior Santos

A barragem Armando Ribeiro Gonçalves, que atinge cinco municípios, tem pontos que, com a estiagem deste ano, não atendem às necessidades do homem.
Foto: Júnior Santos
A barragem Armando Ribeiro Gonçalves, que atinge cinco municípios, tem pontos que, com a estiagem deste ano, não atendem às necessidades do homem.


Na fazenda Caiçarinha, Glauber Bezerra, investe na avicultura há dez anos. Mantém um aviário com 15 mil aves.
Foto: Júnior Santos
Na fazenda Caiçarinha, Glauber Bezerra, investe na avicultura há dez anos. Mantém um aviário com 15 mil aves.


Na comunidade Boi Selado, na falta da água para o plantio, o agricultor Francisco Canindé de Morais, 53 anos, luta com abelhas.
Foto: Júnior Santos
Na comunidade Boi Selado, na falta da água para o plantio, o agricultor Francisco Canindé de Morais, 53 anos, luta com abelhas.

Na comunidade Boi Selado, na falta da água para o plantio, o agricultor Francisco Canindé de Morais, 53 anos, luta com abelhas.
Foto: Júnior Santos

Francisco de Assis Sousa da Fé, 49 anos, não perdeu as esperanças. Vem de Assu, de tempos em tempos, para pescar na barragem. No lugar onde vive, a terra árida não é agricultável e a da Lagoa do Piató, que recebe águas principalmente do Rio Piranhas/Assu e já esteve seca aproximadamente 50 anos, vindo a encher novamente depois que o canal fora desobstruído nos idos de 1972, voltou a secar. "Tem pouca água. A lagoa não está dando nada", contou o pescador. 

Quando se desloca para São Rafael, junto com outros pescadores, chega a passar uma temporada de até 25 dias. E, nem sempre, o resultado da pesca é bom. No dia em que encontramos os pescadores, eles estavam quase encerrando a jornada (de segunda até a quinta-feira tinham pescado 58 quilos de peixe). Em outras temporadas, de cheia da barragem, chegam a sair com o dobro.

"A estiagem está atrapalhando muito. No ano passado, que choveu muito, a gente via peixe em todos os cantos e até na margem da barragem. Hoje não se vê mais", contou José Rodrigues da Silva, o "Zé Oliveira". Quando a equipe da TN chegou à barragem, próximo ao Clube Naútico, ele saía para mais um dia de pesca. Apesar da escassez, mantinha a fé. "Ainda dá pra tirar algum, mas precisa ir nas águas mais profundas, de seis, sete metros", acrescenta.

Ele disse que antes chegava a sair da água com até 100 quilos. Hoje, sai com, no máximo, 40 quilos, para dividir por dois. Ele e o colega de pescaria. "Às vezes, a gente sai com 15 quilos, não é nada", citou. Francisco Jerônimo, 50 anos, conta que o vento está "ruim demais, muito forte e atrapalha". "Uns dias tem pesca boa, outros a gente sai sem nada e fica difícil pela despesa que a gente, que vem de fora, tem com feira, gelo e combustível", disse o pescador que se deslocou de Assu a São Rafael.

Na barragem, a pesca é feita com rede. Poucos arriscam a pesca de anzol. José das Graças Barbosa, 63 anos, é um deles. Entrou na água às 6h e saiu às 9h10, sem nenhum peixe. "Ontem peguei dois peixes de dois quilos e meio. Está muito escassa a safra", mencionou. Fagner Brás, 18, pesca com rede e teve mais sorte. Saiu do barragem com mais de 20 quilos em dois dias de pescaria das 5h às 11h. 

A Colônia de Pescadores Z-27 (São Rafael) tem 1.200 pescadores, mas segundo a tesoureira da entidade, Claudiomar da Silva Moura Soares, a barragem atrai pescadores até mesmo de outros estados, como a Paraíba. "Nesse período de seca, muitos estão se deslocando para onde tem mais água para ver se consegue algum sustento na pesca", contou. A barragem é rica em tilápia. Outras espécies, como curimatã e tucunaré desaparecem nos períodos de estiagem.

"O curimatã foi visto até meados de abril, agora está escasso", disse Zé Oliveira, que pesca há 48 anos. Nas águas do açude Dourado, em Currais Novos, apesar da reserva hídrica estar abaixo de 40%, as águas continuam sendo visitadas por pescadores, mas a poluição e o baixo volume têm provocado a mortandade de peixe. No açude Caiçarinha do Carneiro, onde o volume d'água não representa 10% da capacidade, os peixes também não resistem e morrem.



Apicultura sofre com a estiagem e cai produção
 
Diversificar atividades tem sido uma solução, no semi-árido, pelo menos, para alguns. Na zona rural de Jucurutu, o apicultor Francisco Canindé de Morais, 53 anos, tirou perto de 200 litros de mel, de 18 colméias. Mas parou a extração, quando a estiagem apertou. Segundo ele, por ano, dá para tirar, por colméia, 80 litros. Com a estiagem, a apicultura sofreu um baque. As colméias encheram em fevereiro, quando o marmeleiro e o velame floresceram.

"Tirei um pouco de mel, mas o que tem lá não posso mexer, porque senão elas vão migrar para outras regiões", citou o apicultor. Canindé contou que vendia mel para Currais Novos, mas este ano não fez venda pela baixa quantidade que extraiu. O que extraiu foi suficiente para atender a demanda da Prefeitura. O mel, embalado em saquinhos, é incluindo na merenda escolar.

"Em ano bom", disse ele, "dá pra tirar uns R$ 4 mil, mas esse ano só tirei uns R$ 1 mil, mas ainda tenho mel em estoque", contou. Normalmente, a colheita é feita a cada 10 dias.

Em Santa Cruz é a avicultura que está em expansão. Por aviário, a média de criação chega a 15 mil aves. Mas nessa época, a estiagem exige mais investimentos, com sistemas de ventilação e nebulização, para evitar a asfixia das aves.

Em alguns aviários, mais de 10 mil litros de água são pulverizados. Nos últimos meses, o cuidado foi redobrado nos aviários com frangos depois que uma  queda de energia provocou, em abril, a asfixia de quase 6.200 aves, na região. Os avicultores amargaram um prejuízo de R$ 15 mil. As mortes foram registradas em dois dias. "Com o clima muito quente e sem o suporte da energia, não tivemos como fazer ventilação e nebulização", contou o técnico em agropecuária, Paulo Rogério Araújo Cardoso.



Cerâmica é uma das opções na região
 
Se para o agricultor, o sol causticante do sertão é um tormento, para a indústria da cerâmica ele até ajuda. Com a temperatura mais quente, o tempo de secagem dos tijolos e telhas é menor e a produção aumenta. Mas, nem por isso, a atividade vai bem. Marcos Soares investiu no ramo da cerâmica, nos arredores de Jucurutu. Atualmente, a cerâmica Santa Rita emprega 20 pessoas. Este ano, ele abriu apenas cinco novas vagas, pouco para a região.

Localizada a 19 km da sede do município, a cerâmica está produzindo, em média, 90 milheiros de tijolos, por semana, o dobro do que produz durante o inverno. Mas as vendas despencaram, devido à crise econômica provocada pela estiagem, agravada em abril.

Segundo o ceramista Marcos Soares o 'tempo é ruim, mesmo com a produção mais alta'. "Da produção não tem o que reclamar. Está boa, mas tem mês", disse ele, "que fabricamos 240 mil peças e não conseguimos vender tudo". Marcos estima que as vendas registraram uma queda em torno de 50% e acredita que, persistindo a crise econômica, a tendência é que os ceramistas menores se desfaçam de seus negócios e com prejuízo.

Nas cidades, a crise econômica gerada pela estiagem tem grande repercussão. No comércio e nas feiras livres, as vendas caíram. Os comerciantes sentem o declínio na pele. Nos armazéns, a procura pela ração está diminuindo. "Hoje, o produtor", disse o comerciante Weber Joaci de Araújo Mendes, de Currais Novos, "não tem poder aquisitivo, capital para comprar".

Negócios rentáveis no semi-árido têm sido a venda de palma e de água. Na estiagem, o caro-pipa inflaciona a seca, principalmente onde a ação governamental não chega. O preço cobrado pelos 'pipeiros' vai de R$ 60,00 a até R$150,00, dependendo da distância que o pipeiro vai percorrer. A carrada da palma, que era vendida a R$ 120,00 está a R$ 240,00.



Fonte:   Jornal  Tribuna do Norte
Margareth Grilo - repórter especial

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