domingo, 27 de maio de 2012

A SECA MALTRATA O HOMEM DO CAMPO

Perdas do rebanho devem se agravar nos próximos meses


 (Eduardo Maia/DN/D.A Press) A previsão de boas chuvas informada pelos meteorologistas do Nordeste, incluindo a Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn), gerou otimismo nos criadores do município de São Tomé. "Ninguém se preveniu ou vendeu, e sim comprou e manteve o rebanho. Quando chegou janeiro e fevereiro vimos que era o inverso", lembra o produtor e engenheiro agrônomo Valter Gomes Barreto, 48 anos. Na zona rural da cidade, na Fazenda Pedro do Navio, um cemitério de animais divide a paisagem com o solo seco, onde o gado sobrevivente procura algumas sobras de pasto para se alimentar.

A morte de animais é uma realidade notória também no município de São José do Seridó, e na região Central, na qual está a cidade de Afonso Bezerra. Porém outros locais devem entrar na lista com o passar do tempo. Se a estiagem continuar até o próximo ano, as perdas tendem a ser bem mais pesadas. Fala-se em 50%, 60% ou até 70% de queda no tamanho do rebanho potiguar, que antes da seca era composto por cerca de 900 mil animais. Afalta de estoques para alimentação escancara a falta de preparação dos produtores. "Estão se valendo de Deus primeiro, dos governantes, e se livrando do rebanho como podem", diz Jerry Almeida, veterinário da prefeitura de Afonso Bezerra.

Para evitar prejuízos maiores muitos se livram do rebanho por preços baixos. José Amílton Borges, 56 anos, morador da comunidade Maxixe, no município de Currais Novos, se viu obrigado a vender o gado por R$ 500. O preço ideal seria R$ 1.000. Da mesma forma ocorreu em diversos pontos do interior potiguar. Na comunidade Lagoa Comprida, em São Paulo do Potengi, o agricultor José Xavier de Lima, 65 anos, vendeu por R$ 700 uma vaca leiteira que valia R$ 1.500. De acordo com o agrônomo Valter Gomes Barreto os compradores, vindos do Agreste potiguar, não aliviam. "Eles só vêm para comprar matando no gogo. Já cheguei a relatos de pessoas vendendo vaca a R$ 450", diz.

A falta de chuvas deixou os criadores sem pastagem e os obrigou a comprar no mercado produtos encarecidos. Os alimentos concentrados - originados de fontes protéicas - são os que mais inflacionaram. O preço do farelo de soja subiu de R$ 35 para R$ 62 desde o início do ano. Também não escaparam do reajuste os produtos volumosos - de baixo valor energético. O custo alto leva grande parte dos criadores a buscar outras formas para pelo menos manter o gado vivo. A alimentação alternativa é feita na base de plantações cactáceas, como xique-xique e cardeiro. As plantas são cortadas e queimadas para eliminar as partes espinhosas, e usadas para alimentar os animais.

A queima das cactáceas é cena rotineira na zona rural dos municípios potiguares. "São volumosos de baixa qualidade. O xique-xique, por exemplo, tem 90% de água", comenta o veterinário Jerry Almeida. O baixo valor nutritivo interfere diretamente na qualidade da carne e leite tirados do gado. Na feira de Caicó, o comerciante Jorge Araújo, 48 anos, comenta que tem recebido ofertas freqüentes de animais a preços baixos. "O boi completo que nós compramos caiu de R$ 7,50 para R$ 6 [o quilo]", afirma. Com muita mercadoria para vender, as carnes mais nobres como alcatra, contrafilé e picanha baratearam. "O quilo que era R$ 15, hoje custa R$ 13", acrescenta.



Fonte:  Felipe Gibson - O POTI
Via   DNonline

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