domingo, 8 de junho de 2014

ENTREVISTA DO JORNAL "O MOSSOROENSE" COM NEY LOPES

"O partido se autodeprecia", declara Ney Lopes

Ney Lopes lamenta posição do DEM
O ex-deputado federal Ney Lopes está na vida pública desde os anos 1980. Nunca mudou de partido. Sempre esteve no PFL, que virou DEM. Hoje, ele compartilha com a governadora Rosalba Ciarlini das dores de ser preterido pelo próprio partido. Nesta entrevista, ele defende o direito de Rosalba disputar a reeleição, mas pondera que isso é muito difícil. Também analisa o quadro de decadência do DEM.

O Mossoroense: Como o senhor analisa o resultado da reunião que rejeitou a candidatura de Rosalba?

Ney Lopes: Analiso como tendo sido "um jogo de cartas marcadas". A rigor, não havia necessidade dessa reunião prévia da Comissão Executiva do partido. Ela foi feita em razão de pressões humilhantes feitas ao senador José Agripino pelo deputado Henrique Alves e a ex-governadora Wilma de Faria. Argumentaram que o DEM teria que sinalizar o mais breve possível que não teria candidatos ao Governo do Estado e ao Senado. Essa era a exigência "número um" que o PMDB e PSB faziam para viabilizar a entrada do DEM numa coligação proporcional e dessa forma garantir (em termos) a eleição do filho do senador José Agripino, deputado Felipe Maia. Observou-se uma verdadeira orquestração para "barrar a qualquer custo" a candidatura de Rosalba à reeleição e, inclusive, a minha pretensão de disputar o Senado este ano. Henrique e Wilma não admitem concorrentes e querem ganhar por W.O. A rendição do DEM foi pública e notória. Alegaram que era para fortalecer o partido. Quem já viu fortalecer partido agachado e de pires na mão, diante de adversários históricos? Poder-se-ia analisar, sem preconceitos, se fosse uma coligação como a de 2006, na qual o DEM indicou o vice-governador e outros cargos. No caso de 2014, o DEM ficou absolutamente sem nada, capitulou, perdeu altura e tamanho. No início da última reunião do DEM, o senador José Agripino e o seu filho deputado Felipe Maia anunciaram a intenção de enxotar Rosalba e outros, com todas as letras. Ainda pedi a palavra para ponderar um prazo, no qual Rosalba e outros pretendentes majoritários pudessem articular-se, já que não tinham feito isso antes, em função da desconfiança propagada pelos dirigentes do partido, de que a legenda lhes seria negada. Como Rosalba poderia montar um arco de aliança política nessas condições? Aliás, a responsabilidade dessas alianças seria também dos dirigentes do DEM e não só dela. Rosalba entregou ao senador José Agripino um requerimento, pedindo um prazo. Tudo foi negado. Sem explicações, o requerimento não foi debatido, nem votado. Ao contrário, de uma forma inusitada e inédita numa assembleia que deveria ser democrática, o senador José Agripino anunciou que colheria os votos antecipados de quem tivesse compromissos, ou desejasse ausentar-se da reunião. Quer dizer: de nada adiantaria argumentar, ou debater. A única alternativa era sair do recinto, o que foi feito pela governadora e alguns amigos. Um espetáculo deplorável e melancólico para um partido que se diz "Democrata".

OM: Desde a redemocratização, o DEM (PDS, Arena e PFL no passado) sempre foi protagonista ocupando espaços nas chapas majoritárias. Como o senhor analisa essa adesão ao PMDB sem participar da majoritária?

NL: É um fato político no mínimo estranho. O partido se autodeprecia. Constrange-me fazer essa análise, em razão de ter contribuído ao longo do tempo para o crescimento do partido. As alianças políticas sempre têm contrapartida, sobretudo quando se trata de siglas de peso no Congresso Nacional. Há muitas especulações sobre as razões dessa concessão de abrir as portas, dá tudo, sem ocupar nenhuma posição.

OM: Que especulações seriam essas? Vantagens, benefícios?

NL: Seria leviano se afirmasse o que não posso provar. Ouvi muitas versões e creio que o mundo político sabe do que estou falando. Só tenho a lamentar que o DEM se submeta, com extrema subserviência, aos caprichos de ferozes adversários em passado muito próximo. Em 2006, o PFL fez coligação com o PMDB, porém indicou nomes nas chapas majoritárias e proporcional. Em 2004, o senador José Agripino me fez dramático apelo em Brasília para que fosse candidato a prefeito de Natal. Ele dizia que se o nosso partido não apresentar candidato, seria humilhante para ele. Disse-lhe que, faltando 48 horas para terminar o prazo do registro dos candidatos, seria impossível ganhar a eleição. Ele, então, assumiu comigo o compromisso de que, em caso de derrota, eu seria o candidato a senador, em 2006, o grande sonho que vinha acalentando há três eleições, sempre preterido no partido. Perdi a eleição de Natal e confiei que seria candidato ao Senado. Já na pré-eleição percebi que o compromisso não seria cumprido. José Agripino lançou Rosalba para o Senado e não me deu nem explicação. Desprezou-me, simplesmente, como está fazendo agora com a própria Rosalba e de novo comigo, que pretendia ser candidato a senador. Na coligação que José Agripino fez com o PMDB, em 2006, ficou acertado que nosso partido indicaria o vice-governador de Garibaldi. O nome escolhido como candidato a vice, indicado pelo PFL, foi o deputado Getúlio Rego, que por querelas políticas em Umarizal com o deputado José Dias, familiar próximo do então candidato a governador, Garibaldi Alves, terminou sendo inviabilizado. Em seguida, o senador José Agripino manifestou preferência pelo deputado José Adécio, que igualmente enfrentou dificuldades por ser adversário do pai de Garibaldi em Pedro Avelino. A fim de facilitar a eleição do seu filho Felipe Maia para deputado federal e diante da impossibilidade de Getúlio e José Adécio serem candidatos a vice, o senador José Agripino concordou com o meu nome para vice de Garibaldi. Naquela época, eu vinha de uma eleição de deputado federal, em que tive 98 mil votos, em todas as regiões do RN, tendo sido o primeiro do PFL e o segundo mais votado do Estado. A situação em 2006 era diferente de hoje. Negociou-se uma coligação PFL e PMDB, sem "cassação branca", traição ou "humilhação" a nenhum companheiro de partido. Tudo cordial e com dignidade política. Diferente do espetáculo trágico e humilhante de 2014.

OM: O senhor acredita que o DEM conseguiria manter as cadeiras com Rosalba disputando a reeleição?

NL: Claro que acredito. Em primeiro lugar, Rosalba não tem o desgaste que foi propagado pelo "complô" armado contra ela, com o apoio do DEM. Pesquisas recentes mostram claramente que ela candidata teria o segundo turno e iria para essa fase posterior da eleição. O governo de Rosalba não tem máculas de corrupção. Teve dificuldades, quase insuperáveis, que conseguiu vencer e hoje ainda luta para recuperar o Estado falido que recebeu. Por caso alguém desmentiu com números e argumentos que o RN não estava falido em 2011? Ninguém fez isso por ser impossível. Em tais situações políticas, somando-se ao senador José Agripino e demais integrantes do DEM, seria perfeitamente possível formar um bom arco de alianças, o deputado Felipe Maia reeleger-se (talvez mais um federal) e fazermos 3 ou 4 estaduais. O palanque de Rosalba seria o único de oposição ao PT no RN. Hoje não há mais esse palanque de oposição. Todos ficaram de cócoras e se dobraram a Lula, Dilma e seus aliados. Inclusive, o DEM. A imprensa nacional já fala até que Aécio não terá palanque no RN. O palanque de Henrique será, ao mesmo tempo, de Dilma, Aécio e Eduardo Campos. Há quem durma com uma zoada dessa? Triste e decepcionante espetáculo que os políticos do Estado mostram ao país. Estamos no final da fila da ética política brasileira. Não há como dizer o contrário. Todos calçam 40.

OM: Juridicamente é possível Rosalba reverter a inelegibilidade no TSE?

NL: Advogado não antecipa decisões judiciais. Respeita qualquer que seja ela. Entretanto, custa crer. Ao contrário do que se propaga, só há um processo no TSE contra Rosalba, que se refere a sua possível inelegibilidade. Trata-se de um poço artesiano em Mossoró, que ela não autorizou, não foi concluído no período eleitoral e testemunhas de acusação confirmaram que ela nunca foi ao local. Esse poço foi um pedido do Incra para um assentamento de sem-terras. Um fato desse tipo tornar uma governadora inelegível seria a ressurreição do AI-5 em plena democracia.
Observe-se que o TSE, em situações como essa do processo pendente contra Rosalba, mesmo existindo a condenação de colegiado (TRE-RN), tem autorizado o registro do candidato e o direito de disputar a eleição, por não ocorrer o trânsito em julgado da decisão. É a "presunção de inocência". Alguns advogados, entretanto, alegam existir uma perda de prazo no processo pendente de Rosalba. Não examinei o processo. Se houver esse risco de perda de prazo, é muito ruim. Em direito eleitoral,prazo é mortal. A pessoa pode perder a causa, sendo inocente. Apenas, pela perda de prazo.

OM: A que se deve, em sua opinião, a decadência do DEM em nível nacional?

NL: Não diria decadência do DEM. Diria decadência da política brasileira, que está sem líderes combativos, que assumam posições, lutem por elas, digam o que pensam. Homens do tipo Lacerda, Getúlio, JK, Brizola e por justiça Lula e FHC. Os partidos brasileiros se deterioraram, se esfacelaram, viraram birôs de troca de favores e interesses por baixo do pano. Por exemplo: qual foi o líder partidário do Brasil que se preocupa com a governabilidade democrática e apresentou estratégia para um debate aberto de propostas concretas para o país? No Chile, após a democratização, existiu o movimento de governabilidade chamado "La Concertacion", que salvou o Chile. Na Espanha e Portugal, fatos semelhantes ocorreram e ocorrem. No Brasil, o partido é uma bóia para salvar os mandatos dos integrantes que são "bem vistos" pelas cúpulas. Os demais militantes são lançados às chamas, como ocorreu com Rosalba, comigo e tantos outros, no episódio do DEM-RN. A causa da decadência é, portanto, a falta de líderes expressivos no comando dos partidos, preparados, com ideias inovadoras, que não repitam frases feitas, ou slogans sugeridos por marqueteiros e assessores. Uma lástima o quadro atual.

OM: O senhor se sente decepcionado com José Agripino ou já esperava isso pelo que já aconteceu com o senhor no passado (um exemplo em 2006, o senhor queria disputar o Senado)?

NL: Claro que sempre tive vínculo com o PLF e o DEM. Sem partido, não teria sido deputado em seis legislaturas. Porém, em nível de RN, jamais fui indicado ou tido como prioridade para nada. Fui preterido várias vezes como pretendente ao Senado. Em nível nacional, desempenhei várias missões, reconhecido pela liderança do partido na Câmara e o governo de FHC. No RN, somente sofri muitas humilhações (e meu filho também, o vereador Ney Lopes Jr.) ao longo da minha vida pública. Com tempo poderia relembrar uma a uma, se necessário, com detalhes. Muitos amigos próximos me criticavam, por não reagir. Sabia que José Agripino levava na chacota a minha posição, chamava-me de pusilânime e que jamais teria coragem de romper com ele. É que nunca gostei de mudar de partidos, para manter coerência. Sempre alimentava a esperança que no debate interno poderia ser ouvido. Dirão que fui vice-prefeito de Natal, vice-governador, indicado pelo DEM e meu filho eleito vereador em Natal. Vice-prefeito em 1988 fui chamado minutos antes de fechar o prazo do registro. José Agripino articulou até a última hora com Marco César Formiga, que não aceitou. E como não havia saída mandou um recado, me convidando. Vice-governador em 2006 já contei a história de que os nomes indicados foram Getúlio Rego e José Adécio, vetados pelo PMDB. Para ajudar na eleição de Felipe Maia, facilitada com a minha saída, empurraram o meu nome e ficaram felizes com a derrota de Garibaldi. Na eleição de Ney Jr., em 2008, realmente o DEM apoiou. Logo depois da eleição, Ney Jr. soube por ouvi dizer (José Agripino nunca falou com ele) que a orientação do DEM era para votar na composição da Mesa da Câmara Municipal em vereadores que estavam indiciados na polícia e na Justiça, por supostamente terem recebido propina. Esses vereadores prometiam apoiar Agripino na eleição seguinte de senador. Ney Jr. avisou que gostaria que o senador José Agripino lhe orientasse pessoalmente nesse sentido. Ele não orientou. Silenciou, desprezou, como sempre faz. Ney Jr. não votou nesses vereadores indiciados para não começar o seu mandato com suspeita de cooptação. Por isso caiu na desgraça de José Agripino, que nem o cumprimentava e prometeu derrotar-lhe, o que realmente aconteceu, prestigiando com o Fundo Partidário e ajudas o atual vereador Dagô, enfraquecendo Ney Jr., que foi o vigésimo mais votado em Natal, mas não se elegeu pelo baixo quociente do DEM. O episódio recente com Rosalba Ciarlini foi a gota d'água que faltava para consumar-se a minha decepção no DEM.

OM: O senhor acredita que é possível Rosalba conseguir ter a candidatura à reeleição nas convenções?

NL: Acho muito difícil. Um ponto que confirma a luz do meio-dia os propósitos do DEM-RN "cassarem" a governadora Rosalba Ciarlini é o fato de o presidente do partido, senador José Agripino, ter tirado do bolso de sua algibeira a data de 15 de junho para marcar a convenção do partido, em Natal, RN. O prazo para convenções poderia ser entre 10 e 30 de junho.O senador José Agripino antecipou a data para 15 de junho, a fim de criar dificuldades à governadora Rosalba Ciarlini buscar o apoio dos convencionais do partido, todos eles "já trabalhados" pelos que apoiam a tese de coligação com socialistas e pemedebistas locais, sacrificando a sua candidatura.
Observe-se que o dia 15 de junho é a véspera do jogo em Natal, pela Copa do Mundo, da equipe dos Estados Unidos, quando estará presente o vice-presidente daquele país.Uma data dificílima para o deslocamento dos convencionais, que virão do interior do Estado. Até a locomoção nas ruas e rodovias terá a presença de severa vigilância, inclusive do FBI americano, helicópteros e aviões sobrevoando a cidade,no sentido de garantir a segurança dos visitantes.
A governadora Rosalba Ciarlini está, portanto, de fato absolutamente fora da disputa eleitoral. Somente muita solidariedade dos delegados do partido no interior do Estado poderá reverter essa situação. Porém, 95% dos delegados são provisórios. Agripino não os nomeou definitivamente. Se sentir que alguém não segue a sua orientação, substituirá imediatamente. É uma verdadeira ditadura. É o comando revolucionário do DEM.

OM: O senhor e os demais integrantes do DEM que ficaram ao lado de Rosalba ainda terão condições de ficar no partido?

NL: Até o final da eleição não se deve perder o vínculo partidário, que poderá ser juridicamente necessário para algum providência, ou até ação judicial. Depois é depois. Nem sei se o DEM existirá após a eleição. É um partido em processo de velório. Talvez vá mendigar uma fusão com partidos ligados a Lula e Dilma, com quem está se aliando agora no RN.

OM: É possível que vocês apoiem a candidatura de Robinson de Faria?

NL: Não me consta que isso esteja sendo cogitado. Afinal, mesmo sendo a convenção marcada uma pré-farsa, ela ainda não foi realizada. Tudo é possível, até os dirigentes do partido reconhecerem o erro em que incorreram e reabrir o diálogo com Rosalba. Não vamos fechar a porta. Ter paciência e confiar no quase impossível é recomendável para evitar precipitações.

OM: Ney Lopes e Ney Lopes Júnior vão ser candidatos este ano?

NL: Como já lhe disse, pretendia colocar o meu nome como pré-candidato ao Senado. Acho que pela experiência que tive no Congresso Nacional poderia ajudar o RN, sobretudo ressurgindo o crédito educativo que criei e hoje está deformado (não beneficia alunos de faculdade pública) e lutar por uma área de livre comércio no RN, ao lado do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, para criar, no mínimo, 50 mil empregos, diretos e indiretos. Minha campanha teria o slogan seguinte: "Se achar que cumpri o meu dever como deputado federal, vote em mim. Se achar que não cumpri, procure outro candidato". Estou convencido que não será possível. Fui também cassado junto com Rosalba pelo DEM-RN. Ney Jr. está muito decepcionado com o DEM e a vida pública. Só recebeu ingratidões. Por isso nem se desinconpatibilizou do PROCON, que dirige no RN. Nem que queira será candidato.

Bruno Barreto - Editor de Política



 POR REDAÇÃO DO

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