domingo, 21 de setembro de 2014

ENTREVISTA COM HENRIQUE ALVES

"Não tenho o direito de prometer para não cumprir", diz Henrique Alves

Henrique diz combater radicalismo
Henrique Alves entrou para a política com apenas 21 anos, quando se elegeu deputado federal para integrar a bancada de oposição consentida em plena ditadura militar.

De lá para cá foi líder da maior bancada da Câmara dos Deputados, participou de uma Constituinte, assumiu a liderança de um grupo político após a morte do pai, se tornou presidente da Câmara dos Deputados e chegou a presidir o país interinamente.

Mesmo assim, ele revela nesta entrevista que governar o Rio Grande do Norte será o maior desafio da sua vida.

O Mossoroense: Hoje o senhor tem três palanques em Mossoró. Como administra isso?

Henrique Alves: Isso mostra primeiro a serenidade que estamos tendo na condução dessa campanha com absoluta responsabilidade. Porque não é só ganhar a eleição, é governar com força para mudar e você só tem força se somar lideranças,responsabilidades, compromissos, inteligências e experiências. Sou uma pessoa como outra qualquer. Não sou nem um super-homem. Preciso de pessoas que venham formar quadros e equipes para o governo. Quero delegar poderes para evitar que tudo fique esperando a decisão do governador. Que as decisões fiquem engarrafadas. Nas coisas centrais deve esperar para o governo, mas na maioria dos casos quero dar autonomia aos secretários para que ajam com mais rapidez e eficiência. Para isso é preciso ter quadros e buscar parcerias com lideranças, pessoas importantes da nossa sociedade, da universidade e com jovens talentosos. É por isso que estamos construindo essa união em favor do Rio Grande do Norte porque o Estado não pode ficar do jeito que está. Não posso sentar na cadeira de governador e ficar olhando para o retrovisor, culpando o passado e ficar dizendo que não tem condições de fazer. Não pode ser assim. Eu tenho que criar condições para fazer. Se estou topando o desafio é que tenho que resolver os problemas e para isso preciso de força política para fazer as mudanças. Para isso acontecer vou precisar de parcerias com o Governo Federal e iniciativa privada porque o Orçamento do Estado está combalido e mesmo assim preciso fazer mudanças na educação, na saúde, na segurança, na infraestrutura e quanto mais cabeças pensando melhor. É esse o esforço de construção que estamos fazendo e o Rio Grande do Norte está aplaudindo e se Deus quiser é assim que vamos governar. Aqui em Mossoró, como você citou exemplo, temos o apoio de lideranças importantes que a cidade conhece, de tradição política e que têm serviços prestados. São pessoas que Mossoró conhece e confia. Associados a todos os outros vão me ajudar a ser um grande governador para o Rio Grande do Norte e Mossoró.

OM: O senhor tem falado na “Operação 190”. E quanto tempo espera para reduzir a criminalidade?

HA: Vamos primeiro dividir esse trabalho em partes. Primeiro, uma etapa emergencial, urgente porque não pode ficar do jeito que está. Os bandidos encontraram aqui um paraíso. Estão soltos e as pessoas de bem com medo trancadas dentro de casa. Os pais estão preocupados com os filhos que saem para a balada, ficam preocupados que horas vão voltar, rezam para que os filhos não caiam nas drogas. Isso não pode continuar. Essa sensação de impunidade tem que ter um basta urgente. Queremos fazer um trabalho para que a sociedade participe desse esforço e não tenha medo de denunciar, nos ajude para que ela possa se sentir protegida. Espero criar um gabinete de gestão integrada juntando a Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Itep e representantes da sociedade civil. Terá um gabinete central comandado pessoalmente pelo governador. Vou cuidar disso diariamente cobrando metas e resultados. Vamos fazer esse gabinete em quatro regiões do Estado. Nos primeiros seis meses vamos ocupar pela polícia essas áreas conflagradas. Para você ter uma ideia, 60% dos homicídios do Estado estão em Natal e Mossoró. Isso é um absurdo. É uma situação de calamidade, dramática. Vamos tentar parcerias com o Governo Federal. Tem um programa que consegui ano passado, mas não se viabiliza por falta de contrapartida que é o “Brasil Mais Seguro”, que já deu resultados em Alagoas onde o trabalho foi exitoso com recursos para inteligência, tecnologia, aquisição de materiais que hoje não temos como viaturas, armamentos, coletes e tecnologia para que as polícias civil e militar interajam. Precisamos dar condições para que a polícia se sinta respeitada e motivada. Essa medida emergencial nós faremos. Mas não é só repressão. Vamos levar ações sociais com educação, lazer, esporte e cultura para que os jovens nos ajudem a combater o crime e vejam que vale a pena ser do bem e levar uma vida correta. Para fazer esse trabalho precisamos da ajuda da sociedade para fazer um mutirão nesses primeiros seis meses. Vamos fazer uma política social que integre a política investigativa e repressiva das polícias. Vamos motivar, dar ascensão funcional aos policiais, pagar as diárias operacionais que estão em atraso... é uma complexidade que passa até pela iluminação pública que é uma coisa aparentemente simples, mas é muito importante, ruas, praças e logradouros bem iluminados. Se Garibaldi foi o governador das adutoras, eu vou ser o governador da segurança.

OM: O Rio Grande do Norte foi destaque nacional pela falta de saúde. Qual a solução?

HA: Mossoró está quase virando notícia nacional porque as pessoas não estão conseguindo ter os filhos na cidade porque obstetrícia aqui não tem. Estão tendo os filhos em Apodi, Assu, Russas (CE) porque não tem leitos para as gestantes. Isso é uma coisa quase criminosa que não pode acontecer. O secretário me informou que precisa para cá de R$ 40 milhões/mês. São 10 milhões para pagar dívidas e 30 para o custeio da máquina, sem quase nenhum investimento. Não quero ficar olhando para trás, pelo retrovisor porque são as circunstâncias que levaram a essa situação. Dos 40 milhões só tem repassado 17 e no último mês apenas oito. É fácil fazer a conta para ver o rombo. E qual a solução? Não tem mágica. É buscar parcerias com o Governo Federal, com a iniciativa, renegociar as dívidas. A saúde não pode esperar, não pode ser contingenciada porque é superemergencial. Vamos buscar parcerias com o Governo Federal e iniciativa privada para garantir os atendimentos. A gente precisa montar na saúde aquilo que o município tem obrigação de realizar que é a assistência básica e ambulatorial. A média complexidade dos hospitais do Estado não tem um que se sustente de pé porque não tem condições de atender. Vamos fazer nesses hospitais centros de diagnósticos para que possa ter ali a solução e fazer consórcio com municípios para que eles possam interagir também nesse hospital estadual. Vamos fazer um hospital de traumatologia para a Grande Natal para que acabe com essa vergonha que é o Hospital Walfredo Gurgel, apesar de todos os esforços. Que ele tenha uma outra destinação para tratar das doenças cardiovasculares, respiratórias que correspondem a grande parte das mortes no Estado por falta de atendimento, prevenção e cirurgia. O Walfredo Gurgel pode ter esse outro foco. Para que dessa maneira tenhamos um hospital que possa desafogar. Para você ter uma ideia, de dez pessoas que chegam ao Walfredo Gurgel, sete são acidentes de moto. Olha que coisa absurda. Isso fica entupindo e naturalmente recorrendo ao único hospital que tem. Veja a amplitude dos problemas na área da saúde. Queremos fazer, se Deus quiser, uma coisa muito transparente, que seja eficiente, que o povo saiba o que está sendo feito, o que podemos fazer e o que não podemos fazer. Eu não tenho problemas em dizer porque eu não tenho o direito de prometer para não cumprir. Quem tem a vida pública que tenho deve dizer com muita clareza o que vai fazer porque as pessoas vão entender e vão ficar solidárias com o seu representante no Governo do Estado. A saúde passa por esse drama todo porque os municípios não têm autonomia para cumprir o seu papel constitucional e o Estado na média complexidade e, inclusive, dar aos médicos e suas cooperativas respeito e diálogo e fazer com que o segmento da saúde seja liderado e use uma meritocracia definida por eles. Sem influência política, partidária que contamina o resultado não é satisfatório. Então, tenho esse compromisso de cuidar da saúde com muita seriedade.

OM: O Rio Grande do Norte teve algumas lutas como a da refinaria que foi para Pernambuco. Tudo esbarra na infraestrutura. Como o senhor analisa essa situação?

HA: Infraestrutura é um gargalo enorme que o Estado tem hoje. O nosso porto perdeu competitividade para Suape, Pecém e vai perder logo logo para Cabedelo na Paraíba. Perdeu competitividade e vai sobrevivendo, mas muito aquém do que poderia ser no escoamento da nossa produção fortalecendo a nossa economia. Estamos vendo um porto privado em Porto do Mangue. O projeto está bem avançado. Há um pleito da fruticultura em Mossoró para que seja feita uma plataforma no porto de Areia Branca para que sejam reduzidos em 30% os custos de escoamento da fruticultura. Isso é fundamental para torná-la competitiva. Nós não temos uma ferrovia que é um transporte barato e seguro. O rodoviário é o mais caro. Temos o aeroporto Aluízio Alves que é o ponto de partida para um grande parque industrial para que as pessoas entendam que não precisam passar por cima do Rio Grande do Norte para desembarcar em São Paulo, para distribuir as cargas pelo país. Vai ser mais barato para eles distribuírem para o Brasil daqui porque é mais próximo dos países deles. O aeroporto aumentou em dez vezes a capacidade de armazenamento das suas cargas e triplicou a quantidade de passageiros que podem receber aqui com grande foco no turismo. Essa infraestrutura nós temos que cuidar porque é aí que está o grande gargalo para atrair os investimentos. São tantos problemas que só com muita gente colaborando, com boa vontade, com uma grande equipe e pessoas de boa vontade que não vejam na política o radicalismo e a intolerância que tem atrasado muito o Rio Grande do Norte.

OM: O senhor vencendo terá dificuldade para acomodar tanta gente no seu governo?

HA: De jeito nenhum. Pelo contrário. Haverá até um melhor entendimento deles pela responsabilidade que nós temos que assumir. Esse Estado não tem mais o direito de errar. Eu como governador, pela minha história, 44 anos de mandato, ajudei no Brasil a todos os governos que pude ajudar, ajudei como líder, como presidente da Câmara. Agora é juntar as forças políticas para ajudar em definitivo o Rio Grande do Norte. Eu não me conformo em saber que somos tão ricos e pobres ao mesmo tempo, sendo o primeiro lugar em energia eólica, o segundo maior produtor de petróleo em terra do Nordeste, na fruticultura exporta para Europa e Estados Unidos, temos minérios, gás e 95% do sal do Brasil. Como é que um Estado com tanta riqueza é tão pobre. Por que com toda essa força, nós somos tão fracos? Porque a meu ver falta a boa política que elimina o radicalismo, convoca a responsabilidade e todos aqueles que estão me apoiando sabem que temos que fazer um governo eficiente e transparente. Transparência é uma palavra simples, mas imprescindível. Precisamos de eficiência que só ocorre se você desemperrar a burocracia e delegar poderes porque o Estado tem pressa em se recuperar. Precisamos de planejamento porque não são ações pontuais que vão resolver os problemas do Rio Grande do Norte. Agora consegui com o Governo Dilma a duplicação da BR-304 que vai interligar Natal a Mossoró, passando por Aracati chegando até Fortaleza. Em novembro teremos o vencedor do edital. É uma obra fundamental para escoar a produção. Tudo isso tem que estar integrado com a ferrovia, com o novo porto.

OM: Qual a sua visão a respeito de Mossoró para o desenvolvimento?

HA: Temos que atentar para a importância econômica de Mossoró. Mossoró não tem que pedir favor a nenhum governante não. O que Mossoró ajuda com as suas riquezas e suas vocações é muito importante para o Nordeste do Brasil. Mossoró tem direito e eu vou fazer um plano estratégico de desenvolvimento para Mossoró para aproveitar toda sua potencialidade e fazer daqui um grande centro de desenvolvimento da nossa economia com geração de emprego e renda com base com o que Mossoró tem dado ao Rio Grande do Norte, ao Nordeste e ao Brasil. Será preciso ter os melhores quadros, é formatar aqueles técnicos que venham dar um sentido de responsabilidade, tudo sob a condução política do governador.

OM: O senhor é deputado há 44 anos, colaborou com vários governos e mesmo assim o Rio Grande do Norte sofre. Qual seria a diferença de Henrique Alves deputado para Henrique governador para trazer recursos de Brasília?

HA: A sua pergunta é muito boa. O que o deputado faz? Ele faz o meio de campo. Ele não executa. Não faz a obra. No governo de Garibaldi com as barragens e adutoras, quem fazia o meio de campo? Era Henrique. É isso que faço para os municípios todos. Na eleição passada fui o único deputado a ter votos nos 167 municípios. Era o meu dever como deputado federal. Ajudei a todos os governos do Estado que me procuraram porque eu tinha força política. Eu fui seis anos eleito e reeleito líder da bancada. Eu quero usar todo o meu patrimônio político para o meu Estado no maior desafio da minha vida, que é unir o Rio Grande do Norte para que ele possa se reerguer e conseguir o lugar de destaque que merece no Nordeste brasileiro. Depois de unir esse Estado vou trabalhar para unir o Nordeste. Sendo eleito em 5 de outubro, se Deus quiser, quero reunir aqui todos os governadores do Nordeste logo em janeiro para que a gente faça um pacto entre nós para restabelecer a Sudene, para que ela possa ser o palco de debate sobre os problemas regionais. Se a gente quiser, e eu conheço os caminhos, a gente para a Câmara porque temos 270 deputados. Não é para pôr a faca no pescoço do governo não. É para o governo respeitar. É para mostrar que há uma necessidade de um plano regional para o Nordeste brasileiro que tem colaborado com o PIB nacional, com as nossas riquezas. Nós temos que ter a nossa participação sim. Tem que acabar com essa história do governador que é mais amigo do presidente consegue mais. Temos que encontrar o nosso espaço. É com essa visão que espero chegar ao governo, levar a sociedade a debater e discutir sem qualquer radicalismo ou intolerância.


Bruno Barreto - Editor de Política

Por Redação do

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